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Tarcísio sela reeleição em São Paulo e nega aval de Bolsonaro à Presidência: gesto de autonomia ou cálculo político?

São Paulo — O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) decidiu cortar pela raiz as especulações sobre uma eventual candidatura presidencial em 2026. Ao confirmar que disputará a reeleição em São Paulo, ele também negou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje em prisão domiciliar, tenha lhe concedido aval ou estímulo para concorrer ao Palácio do Planalto.

A fala de Tarcísio foi dada em tom firme: não há “plano B”. Seu projeto é permanecer à frente do governo paulista, e não embarcar em uma corrida nacional. Mas, em política, as negações também são sinais, e o episódio abre margem para leituras estratégicas.

O peso da negativa

Ao recusar a associação direta com uma candidatura presidencial apoiada por Bolsonaro, Tarcísio busca transmitir duas mensagens. A primeira, interna, dirigida à própria base: seu foco imediato é concluir e consolidar seu governo em São Paulo, um estado de peso político e econômico inegável. A segunda, externa: ele não pretende se tornar um “testa de ferro” de Bolsonaro em 2026, algo que poderia limitar sua autonomia futura.

Na prática, o gesto reforça sua imagem como gestor técnico e moderado, tentando se descolar da dependência absoluta do bolsonarismo — ainda que continue orbitando ao redor dessa base eleitoral.

A visita a Bolsonaro

Mesmo ao negar o aval, Tarcísio confirmou que fará uma visita ao ex-presidente na próxima segunda-feira. Oficialmente, será um encontro pessoal, motivado por amizade. Ele próprio descartou que temas como anistia ou articulações eleitorais estejam na pauta.

Contudo, o simples ato de ir até Bolsonaro em sua prisão domiciliar tem força simbólica: transmite solidariedade, preserva laços com o eleitorado fiel ao ex-presidente e mostra que, embora se afaste do rótulo de sucessor, ainda não rompeu com a matriz política que o projetou.

Entre a gestão e a sucessão

Ao anunciar a reeleição, Tarcísio escolhe o caminho da consolidação regional. Governa o estado mais rico do país, com orçamento bilionário e influência decisiva em qualquer disputa nacional. Reeleger-se em São Paulo significaria chegar a 2030 ainda mais robusto politicamente — e com legitimidade para disputar cargos maiores.

A escolha também revela prudência: a direita brasileira ainda busca reorganizar-se diante da fragilidade de Bolsonaro e da ausência de um nome de consenso. Antecipar-se poderia desgastar sua imagem, transformando-o em alvo antes da hora.

Crítica necessária: pragmatismo ou fuga?

Embora o discurso de Tarcísio reforce sua autonomia, críticos apontam que o movimento também pode ser lido como cálculo de sobrevivência. Candidatar-se à Presidência em 2026 implicaria carregar nas costas todo o desgaste do bolsonarismo — e, sobretudo, enfrentar a sombra de um ex-presidente que ainda monopoliza expectativas no campo conservador.

Assim, confirmar a reeleição em São Paulo pode ser menos uma demonstração de independência e mais uma forma de evitar a pressão de liderar uma direita fragmentada em um cenário nacional adverso.

O que fica para 2026

A negativa de hoje não elimina a possibilidade de Tarcísio virar protagonista no futuro. Pelo contrário: ao reafirmar sua permanência em São Paulo, ele ganha tempo, fortalece sua administração e pode, no longo prazo, se colocar como alternativa viável em um cenário em que o bolsonarismo já não tenha o mesmo peso ou precise de novas lideranças.

Reflexão final

O anúncio de Tarcísio é um recado duplo: a eleitores, de que não abandonará São Paulo para aventuras nacionais; e a Bolsonaro, de que sua lealdade tem limites e será regida por conveniência política.

O desafio do governador será equilibrar essa corda bamba: manter a base bolsonarista por perto sem ser engolido por ela. Se conseguirá sustentar esse jogo até 2026, dependerá não apenas de suas escolhas, mas do destino político e jurídico de Bolsonaro.

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