O planeta caminha para um cenário de aquecimento mais severo do que o previsto no Acordo de Paris. Se as emissões de gases de efeito estufa seguirem no ritmo atual, a temperatura média global pode subir até 2,6 °C até o fim do século o que deve intensificar as ondas de calor e provocar um aumento expressivo nas mortes entre a população idosa.
O alerta dos cientistas
Pesquisas recentes apontam que a meta de limitar o aquecimento a 1,5 °C está cada vez mais distante. Mesmo com esforços de transição energética e compromissos internacionais, o mundo ainda depende fortemente de combustíveis fósseis. O resultado é um planeta mais quente, com verões prolongados, picos de calor mais intensos e noites menos frescas uma combinação que aumenta o estresse térmico e agrava doenças preexistentes.
Os idosos são o grupo mais vulnerável a essas mudanças. O corpo humano perde eficiência na regulação da temperatura com o passar dos anos, e a exposição prolongada ao calor pode causar desidratação, falência de órgãos e complicações cardíacas. Além disso, muitos vivem sozinhos ou em locais com pouca ventilação, o que eleva o risco durante períodos de calor extremo.
O impacto da temperatura na saúde pública
Estudos de universidades e centros de pesquisa internacionais indicam que, se o planeta aquecer 2,6 °C, as mortes causadas por calor entre idosos podem dobrar até 2050. Em países tropicais, como o Brasil, onde as temperaturas já são naturalmente elevadas, o efeito tende a ser ainda mais intenso.
Dados preliminares de pesquisadores brasileiros mostram que o número de internações e óbitos por doenças cardiovasculares e respiratórias cresce significativamente durante as ondas de calor. Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, um levantamento recente associou a onda de calor de 2023 a mais de mil mortes adicionais entre pessoas com mais de 60 anos.
Além das altas temperaturas, a poluição do ar e a urbanização desordenada contribuem para o agravamento do problema. Cidades densamente povoadas, com pouco verde e muitas áreas asfaltadas, retêm calor e dificultam a dissipação térmica o chamado efeito ilha de calor.
Um desafio que vai além do clima
O envelhecimento populacional é outro fator que pressiona o sistema de saúde. Com o aumento da expectativa de vida, cresce também o número de pessoas mais suscetíveis aos efeitos do calor. “Estamos vivendo uma sobreposição de vulnerabilidades: um planeta mais quente e uma população mais idosa”, resume a pesquisadora ambiental Maria Cristina Fernandes, da Universidade de São Paulo.
Ela explica que a adaptação das cidades será crucial nas próximas décadas. “Não se trata apenas de reduzir emissões, mas também de criar infraestrutura capaz de proteger os mais frágeis com áreas sombreadas, habitações ventiladas e redes de assistência que funcionem durante os extremos climáticos”, afirma.
Caminhos possíveis
Especialistas defendem que políticas públicas de adaptação precisam caminhar junto com as metas de redução de emissões. Programas de alerta para ondas de calor, campanhas de conscientização e fortalecimento da atenção básica em saúde são medidas imediatas que podem salvar vidas.
Ao mesmo tempo, é necessário repensar o modelo urbano. Cidades com mais árvores, transporte sustentável e acesso facilitado à água potável tendem a sofrer menos com os efeitos do calor extremo.
O desafio é imenso, mas o consenso entre os cientistas é claro: o aquecimento global já não é uma previsão, é uma realidade. E, se nada for feito para frear o ritmo das emissões, a próxima geração de idosos viverá em um planeta consideravelmente mais quente e mais perigoso.









