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Traição, trégua ou estratégia? O jogo dos Bolsonaros com Tarcísio se intensifica

Por Claudia Antunes

A convivência entre Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas tem sido um entrevero de amizades, rivalidades e ambições desde que o ex-presidente se tornou inelegível. Nos últimos meses, declarações públicas e vazamentos de conversas entortam essa aliança. A pergunta que muitos já fazem é: até que ponto há paz real – e o quanto disso é cálculo político?

O que desencadeou o atrito

O ponto inicial da tensão recente foi uma série de críticas de Eduardo Bolsonaro ao governador Tarcísio. Ele acusou Tarcísio de exercer uma “subserviência servil às elites” por sua posição diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, o popular “tarifaço”.
Além disso, Eduardo questionou Tarcísio por manter na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) um vice-líder ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre), grupo com o qual ele acusa haver contraposição política ideológica.

Também entraram em pauta conversas privadas, tornadas públicas no relatório da Polícia Federal, que mostram Eduardo trocando farpas com o pai, Jair Bolsonaro, sobre a atuação de Tarcísio. Há mensagens ofensivas, insatisfação com posturas políticas, insinuações sobre ambições em 2026.

A trégua — verdadeira ou narrativa?

Pouco tempo depois dessas rusgas, Jair Bolsonaro fez o que se costuma chamar de “gesto de pai”: declarou que conversou com Eduardo e com Tarcísio e que “tudo está pacificado”. Ele disse que Tarcísio continua sendo “um irmão mais novo” e que as críticas, se houver, deveriam ficar no âmbito pessoal.

Mas a paz anunciada parece frágil. Eduardo voltou a atacar seguindo essa “trégua”, como quando questionou publicamente quem Tarcísio mantém como vice-líder na Alesp.

Tarcísio: recuo ou postura calculada?

Tarcísio de Freitas, por sua vez, tem adotado três posturas simultâneas:
1. Minimizar: afirma que conversas divulgadas pela PF entre Eduardo e Bolsonaro são privadas, sem “interesse público”.
2. Se distanciar do escândalo: evita entrar no jogo dos ataques, mantendo uma postura de gestor estatal, com foco em sua base em São Paulo, em vez de se envolver diretamente no embate familiar.
3. Jogar o jogo da ambiguidade: enquanto afirma que não vê interesse público na divulgação das conversas, ele também expressa preocupação com “o rumo que as coisas estão tomando”. Isso permite um posicionamento reservado, nem totalmente dentro de Eduardo, nem completamente fora.

Eduardo e Flávio: irmãos com papéis distintos
• Eduardo Bolsonaro aparece como a voz mais crítica, mais visceral, menos disposta a admitir interlocuções suaves com quem ele julga estar se desviando da “linha”. Ele questiona ações de Tarcísio mesmo depois da trégua de Bolsonaro.
• Flávio Bolsonaro, por outro lado, adota tom mais conciliador (ou pelo menos diplomático). Ele afirmou que vai conversar com Eduardo para “atualizá-lo” sobre a atuação de Tarcísio como aliado no projeto de anistia para os condenados do 8 de Janeiro.
Flávio também reforça que Jair Bolsonaro continua sendo o candidato preferido do grupo para 2026, deixando claro que, mesmo com tensões, a unidade em torno do patriarca é prioritária.

O que está em jogo por trás das tensão
• Eleições de 2026: Tarcísio é visto por muitos como “plano B” dentro do bolsonarismo, caso Jair Bolsonaro não tenha elegibilidade revertida. Essa possibilidade diminui o espaço para críticas públicas fortes, pois alguém que é considerado candidato precisa guardar alianças.

Tarcísio x Bolsonaro: disputa silenciosa que pode definir o futuro da direita

Análise de Contexto

A direita brasileira vive um processo de transição. Jair Bolsonaro já não concentra sozinho o protagonismo político, e novos atores surgem para disputar seu espaço. Entre eles, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que aparece como alternativa mais moderada e pragmática, em contraste com o estilo confrontativo de Eduardo Bolsonaro.

Esse embate não é apenas eleitoral: representa também uma disputa sobre qual versão do bolsonarismo sobreviverá — a militância digital e ideológica ou a gestão de resultados voltada ao eleitorado mais amplo.

Bastidores da Relação

Nos bastidores, Tarcísio adota silêncio calculado diante dos ataques de Eduardo, que chegou a acusar o PL de “boicotá-lo” em pesquisas eleitorais.
Mensagens reveladas em investigações mostraram críticas privadas de Eduardo ao governador paulista, sinal de que a tensão vai além da superfície.
Enquanto isso, Flávio Bolsonaro permanece como articulador nos corredores de Brasília, tentando preservar alianças e blindar juridicamente o pai.

Impacto Político e Eleitoral
• Tarcísio: pesquisas o colocam com desempenho superior ao de Bolsonaro em cenários de segundo turno contra Lula, reforçando sua imagem de candidato competitivo.
• Eduardo: ao renunciar ao mandato e se fixar nos Estados Unidos, tenta internacionalizar sua atuação, mas perde força institucional e depende quase exclusivamente da militância digital.
• Flávio: segue discreto, mas pode ser peça-chave para decidir quem terá o apoio do clã em 2026.

Essa divisão pode fortalecer ou enfraquecer a direita: a pluralidade de perfis amplia o alcance, mas a falta de unidade pode entregar terreno ao adversário.

O Que Está em Jogo

A sucessão de Bolsonaro não é apenas uma questão de nomes, mas de estratégia política. O dilema é claro:
• Apostar em um discurso radical para manter a base inflamada, arriscando perder eleitores do centro.
• Ou investir em um candidato mais pragmático, capaz de unir conservadores e moderados.

O desfecho dependerá de até onde Tarcísio e a família Bolsonaro conseguem coexistir sem transformar a disputa em ruptura.

Conclusão

O futuro da direita brasileira passa, inevitavelmente, por esse embate. Se conseguir harmonizar militância e pragmatismo, pode chegar forte a 2026. Se a fragmentação prevalecer, Lula ou candidatos de centro podem se beneficiar.

Em outras palavras: a sucessão de Jair Bolsonaro já começou — e o resultado dessa disputa interna dirá muito sobre os rumos da política brasileira nos próximos anos.

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