A assessoria do rapper Hungria divulgou nota nesta terça-feira (7) afirmando que exames laboratoriais realizados detectaram presença de metanol em seu sangue, contestando declaração do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, de que os testes teriam resultado negativo. Segundo o laudo citado pelos assessores, o valor de metanol encontrado estaria acima do “valor de referência”, embora bem inferior ao grau geralmente associado a intoxicação grave. O caso, contudo, consta como “descartado” no sistema do Ministério da Saúde.
O laudo apresentado pela assessoria
De acordo com a assessoria de Hungria, o exame foi realizado no Laboratório Richet, da Rede D’Or, e liberado no dia 6 de outubro. O laudo apontaria 0,54 mg/dL de metanol no sangue — valor superior ao limite de referência adotado (até 0,25 mg/dL). A nota enfatiza que o resultado confirma exposição à substância, embora ainda aguarde exame de contraprova para confirmação definitiva. 
Ainda segundo a assessoria, o tratamento adotado seguiu protocolo para intoxicação por metanol, com uso de antídoto e, em casos selecionados, hemodiálise precoce. O cantor estaria em evolução clínica considerada satisfatória e retomando gradualmente sua agenda, sustentando acompanhamento médico contínuo. 
A declaração do ministro e o posicionamento oficial
No dia 6, o ministro da Saúde Alexandre Padilha declarou que os exames do artista não apontaram presença de metanol no organismo — informação que conflita diretamente com o laudo divulgado pela assessoria do cantor. 
Além disso, no sistema oficial do Ministério da Saúde, o caso figura como “descartado”, sugerindo que, para as autoridades de saúde, não há confirmação formal de intoxicação por essa substância. 
Aspectos técnicos: metanol, “valor de referência” e riscos
O metanol é um tipo de álcool tóxico, usado muitas vezes em processos industriais, solventes ou como adulterante em bebidas. Mesmo em concentrações baixas, sua presença no organismo é considerada indesejável do ponto de vista toxicológico, porque o organismo metaboliza o metanol em formaldeído e ácido fórmico, substâncias que podem causar danos ao sistema nervoso, visual e metabólico.
No entanto, a presença de metanol detectada em níveis levemente acima do limite de referência não equivale automaticamente a quadro de intoxicação grave. Para que seja configurada uma intoxicação clínico-tóxica significativa, os níveis no organismo precisariam ser substancialmente mais elevados, acompanhados de sintomas compatíveis como visão turva, dor abdominal, alterações metabólicas e acidose. A nota da assessoria reconhece esse ponto: embora o laudo indique exposição, o valor está bem abaixo do que normalmente se associa a intoxicação aguda. 
A contraprova esperada pode confirmar ou refutar a presença detectada, e será fundamental para embasar qualquer interpretação definitiva.
O caso no histórico do cantor
Hungria foi internado após apresentar sintomas como náuseas, vômitos e turvação visual, em Brasília, e permaneceu por cerca de quatro dias no hospital. A suspeita é de que tenha ingerido bebida alcoólica adulterada com metanol.  Ele teve alta, mas continua em monitoramento médico. 
A polêmica envolvendo os diferentes resultados atribuídos — um no laudo particular divulgado pela assessoria e outro discurso oficial — gera questionamentos sobre transparência, confiabilidade de exames e condução institucional dos processos de investigação em casos de intoxicação por substâncias tóxicas.
O que está em aberto e os próximos passos
A realização e divulgação da contraprova laboratorial será decisiva para confirmar ou descartar a presença de metanol em níveis clínicos.
A autoridade sanitária ou órgão oficial de saúde poderá emitir nota técnica ou resultado oficial, esclarecendo a diferença entre “exposição detectada” e “intoxicação diagnosticada”.
Há possibilidade de investigação sobre procedência da substância ingerida e responsabilização, caso se confirme adulteração.
A divergência entre laudo e declaração oficial pode ensejar debates sobre regulação, fiscalização, qualidade de laboratórios e credibilidade institucional em casos de intoxicação.









