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Morre Cristina Leonardo, advogada que lutou por justiça nas chacinas da Candelária e de Vigário Geral

Rio de Janeiro — Faleceu nesta segunda-feira (20) a advogada e ativista dos direitos humanos Cristina Leonardo, conhecida por sua atuação firme e sensível nas chacinas da Candelária e de Vigário Geral, ocorridas no início da década de 1990. Cristina dedicou sua vida à defesa de vítimas da violência do Estado e se tornou uma das vozes mais respeitadas na luta por justiça e reparação no país.

Uma vida dedicada à defesa das vítimas

Com perfil discreto, mas combativo, Cristina ganhou notoriedade ao assumir a representação jurídica de famílias das vítimas das duas tragédias que chocaram o Rio e o mundo. Seu trabalho foi decisivo para que suspeitos fossem indiciados e para que o Estado reconhecesse sua responsabilidade nas ações policiais.

“Ela não apenas advogava — ela acolhia as famílias, acompanhava os enterros, sentava no chão das casas destruídas pela dor”, relembra o também advogado Paulo César Nogueira, que atuou ao lado de Cristina na época.

Cristina Leonardo formou-se em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, desde o início da carreira, priorizou causas ligadas à violência urbana, aos direitos das minorias e à responsabilização do Estado em crimes de agentes públicos.

O peso das chacinas na história do Brasil

A chacina da Candelária, ocorrida em 23 de julho de 1993, resultou na morte de oito jovens que dormiam nas proximidades da Igreja da Candelária, no Centro do Rio. Poucas semanas depois, a chacina de Vigário Geral deixou 21 mortos em uma série de ataques cometidos por policiais militares em represália à morte de colegas.

Cristina Leonardo acompanhou as duas investigações, participando de audiências, mobilizações e campanhas por responsabilização dos envolvidos. Sua atuação ajudou a dar visibilidade internacional às violações de direitos humanos cometidas no Brasil durante os anos 1990.

“Cristina foi a consciência jurídica de um tempo em que falar de direitos humanos era quase um ato de resistência”, afirmou a socióloga Tânia Rodrigues, do Grupo Justiça e Cidadania.

Legado e reconhecimento

Ao longo das últimas décadas, Cristina manteve-se ativa em projetos sociais e jurídicos voltados à defesa de moradores de comunidades atingidas pela violência policial. Também colaborou com entidades internacionais, como a Anistia Internacional e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

Em 2015, recebeu a Medalha Chiquinha Gonzaga, concedida pela Câmara Municipal do Rio, em reconhecimento à sua contribuição na defesa da dignidade humana.

Despedida

O velório de Cristina Leonardo será realizado nesta terça-feira, em cerimônia restrita à família e amigos próximos. Entidades de advocacia e organizações de direitos humanos divulgaram notas de pesar, destacando seu exemplo de integridade, empatia e compromisso com a justiça social.

“Cristina representa o que há de mais nobre na advocacia: a coragem de enfrentar o poder em nome dos vulneráveis”, declarou a seccional da OAB-RJ, em nota.

Um símbolo de resistência

Com sua morte, o país perde uma das figuras mais emblemáticas da luta por direitos humanos no pós-redemocratização. Cristina Leonardo deixa um legado de justiça, empatia e resistência, lembrando que a advocacia pode ser uma ferramenta de transformação profunda — mesmo nos cenários mais sombrios.

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