O bullying deixou de ser apenas uma “brincadeira de escola”. No Brasil, milhares de crianças e adolescentes sofrem diariamente humilhações que deixam marcas profundas — e, em alguns casos, consequências irreversíveis. A pergunta que fica: até quando vamos ignorar o grito silencioso das vítimas?
Números que assustam
Segundo pesquisa do Ministério da Educação, quase 30% dos estudantes brasileiros já sofreram bullying regularmente. O cyberbullying, via redes sociais e aplicativos, cresce de forma alarmante, afetando principalmente adolescentes. Entre os impactos mais graves estão queda no rendimento escolar, isolamento social, ansiedade, depressão e até suicídio.
“Estamos falando de um fenômeno que não afeta apenas o desempenho escolar. Ele compromete a vida emocional e social da criança e pode ter consequências para toda a vida adulta”, alerta a psicóloga infantil Dra. Mariana Souza, especialista em desenvolvimento de adolescentes.
Justiça e responsabilidade legal
O Brasil passou a tratar o bullying como questão de responsabilidade legal. A Lei 13.185/2015, que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, determina que escolas adotem políticas de prevenção, acompanhamento e punição.
Além disso, decisões judiciais recentes reforçam que a omissão das escolas pode gerar responsabilização civil. Um caso emblemático em Guarulhos resultou na condenação de uma escola a pagar R$ 30 mil por não agir diante de bullying sofrido por uma aluna.
“O que vemos é que a legislação já reconhece o direito das vítimas e coloca a responsabilidade sobre quem deveria proteger. Ignorar o problema não é mais uma opção”, afirma o advogado especializado em Direito Educacional Dr. Ricardo Lima.
Ações das escolas
Para frear o avanço do bullying, muitas instituições têm implementado medidas concretas:
• Treinamento de professores e funcionários para identificação precoce de sinais de violência.
• Criação de canais de denúncia sigilosos, presenciais e digitais.
• Campanhas de conscientização e empatia, abordando diversidade, respeito e convivência.
Segundo a diretora da Escola Municipal São José, Ana Carolina Teixeira, “o trabalho preventivo é tão importante quanto a punição. Precisamos criar uma cultura de respeito, onde os alunos sintam-se seguros para denunciar e apoiar colegas”.
A sociedade também atua
Organizações não governamentais, campanhas educativas e a própria mídia têm papel central na prevenção e conscientização. Além disso, plataformas digitais permitem denúncias anônimas, oferecendo proteção e orientação às vítimas.
“A participação da comunidade é fundamental. Pais, vizinhos e colegas não podem fechar os olhos. A educação para o respeito deve começar em casa e ser reforçada na escola”, reforça Dra. Mariana Souza.
O caminho à frente
O bullying não é apenas uma questão escolar: é social, emocional e legal. A prevenção exige ação conjunta de escolas, famílias, justiça e sociedade civil. Apenas com responsabilidade, empatia e medidas concretas será possível transformar o ambiente escolar em um espaço seguro, onde crianças e adolescentes possam estudar, crescer e se desenvolver sem medo.









