Nova Iorque – No dia 23 de setembro, a sede da ONU volta a ser palco de discursos que pretendem mover o mundo. A 80ª Assembleia Geral se abre com promessas de paz, desenvolvimento e direitos humanos, mas também com um clima de desconfiança: será que o sistema multilateral ainda consegue dar respostas reais às crises globais?
Entre guerras que não cessam, mudanças climáticas que já não são alerta, mas realidade, e democracias em crise, a ONU se apresenta como um espelho da contradição global: o palco é nobre, mas o eco das palavras nem sempre chega à vida das pessoas.
🇧🇷 O Brasil no centro do debate
Tradicionalmente, cabe ao Brasil abrir o debate geral da Assembleia. Neste ano, o país tem nas mãos a chance de reafirmar sua posição como voz do Sul Global. Em um cenário internacional de tensões, a diplomacia brasileira chega com três cartas importantes:
1. Justiça climática – O Brasil deve cobrar compromissos concretos das grandes potências sobre a transição energética e o financiamento climático. Afinal, a Amazônia, símbolo ambiental do planeta, também é alvo de pressões econômicas e políticas.
2. Saúde universal – O país defenderá a importância de sistemas públicos de saúde fortes e acessíveis. A experiência do SUS durante a pandemia é argumento vivo de que investir na saúde pública salva vidas e fortalece democracias.
3. Democracia e desigualdade – Com o avanço de extremismos pelo mundo, o Brasil deve se posicionar como exemplo de resistência democrática. A mensagem é clara: não há paz internacional possível sem combate às desigualdades e sem fortalecimento das instituições.
⚖️ Promessas globais x realidades locais
Enquanto líderes discursam em Nova Iorque, milhões de pessoas — no Brasil, na África, no Oriente Médio ou na Europa — continuam enfrentando desigualdade, fome e violência. A pergunta inevitável é: será que a ONU ainda consegue transformar discursos em ação?
Para o Brasil, o desafio é duplo. O país busca projetar-se como liderança ética e construtiva no cenário internacional, mas também precisa mostrar resultados concretos em casa: reduzir desmatamento, combater a pobreza, fortalecer a democracia. Não há credibilidade externa sem coerência interna.
❓ O que está em jogo
O encontro do dia 23 não é apenas uma vitrine diplomática. É uma encruzilhada:
• Será que os discursos vão além da retórica?
• O mundo aceitará continuar em um sistema onde a desigualdade é regra?
• E o Brasil, conseguirá transformar seu discurso em liderança real, capaz de inspirar não só aplausos em Nova Iorque, mas mudanças palpáveis no planeta?
👉 No fim, a Assembleia Geral da ONU é também um espelho. O que se refletir em seus discursos revelará não apenas o que os países querem dizer ao mundo, mas, sobretudo, o que ainda não tiveram coragem de fazer.
Ausências que falam mais alto na ONU
O ministro da Saúde do Brasil, esperado para defender a saúde universal como bandeira nacional, decidiu não comparecer. Oficialmente, a justificativa é de agenda interna. Nos bastidores, comenta-se que a decisão também tem tom político: não servir de coadjuvante em um evento onde a disputa de narrativas entre potências tende a ofuscar compromissos concretos.
Mas o Brasil não está sozinho. Donald Trump, figura que ainda polariza o cenário político americano, também não marcará presença. A ausência é lida como estratégia: evitar constrangimentos em meio a debates sobre democracia e direitos humanos, temas em que sua imagem continua controversa.
Do outro lado do tabuleiro, Xi Jinping, presidente da China, também se ausenta. O gesto é interpretado como um recado calculado: Pequim prefere negociar diretamente, em sua própria arena de poder, a se submeter ao palco coletivo da ONU.
E não para por aí: até o presidente Vladimir Putin (apelidado por analistas de “o Piton” pela frieza e pela estratégia de serpente que espera o bote certo) segue a mesma linha. Sua ausência não surpreende, mas reforça a percepção de um mundo em que os líderes mais poderosos já não veem a ONU como espaço central de decisão.
🌐 Um encontro de presenças e sombras
As ausências de Trump, Xi e Putin — somadas à do ministro brasileiro — evidenciam um problema: a ONU parece ser palco de discursos cada vez mais inspiradores, mas de compromissos cada vez mais frágeis.
Enquanto líderes menores buscam espaço para serem ouvidos, as grandes potências e figuras polêmicas se dão ao luxo de simplesmente não aparecer. A mensagem é clara: quem mais poderia decidir prefere se retirar, deixando a mesa de negociações vazia.
❓ O que isso diz sobre a democracia global?
• Se os grandes não comparecem, como cobrar ação coletiva?
• Se ministros e presidentes escolhem o silêncio, quem fala em nome dos povos que esperam mudanças reais?
• A ONU ainda é palco central da diplomacia ou está virando apenas uma vitrine de boas intenções?
👉 Este 23 de setembro ficará marcado não apenas pelos discursos que ecoaram no salão principal da ONU, mas também pelo vazio deixado por aqueles que preferiram não se expor. Ausências que, em diplomacia, falam muito mais do que palavras.









