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Marcos Musafir: do trauma no Miguel Couto à luta contra a epidemia silenciosa das motos

🏥 Nos anos 1990, o ortopedista Marcos Musafir conheceu de perto o lado mais brutal da saúde pública. Como chefe da emergência do Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro, operou vítimas de acidentes de trânsito, quedas e violência urbana em um ritmo que transformava a rotina hospitalar em cenário de guerra.

Mas Musafir não se contentou em apenas reconstruir ossos. Incomodado com a repetição dos mesmos dramas humanos, decidiu atacar a raiz do problema. Tornou-se ativista em campanhas que mudaram a vida de milhões de brasileiros: defendeu a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e foi uma das vozes mais firmes pela Lei Seca, ambas medidas que reduziram drasticamente a mortalidade nas ruas.

O novo desafio: motos, a epidemia sobre duas rodas

Hoje, o médico se volta para outro fenômeno alarmante: os acidentes envolvendo motociclistas. No Brasil, as motos deixaram de ser apenas um meio de transporte barato e passaram a ser símbolo de precarização do trabalho e de aumento exponencial de riscos.

Motoboys, entregadores e trabalhadores de aplicativos são expostos a jornadas longas, pressão por produtividade e ausência de proteção efetiva. O resultado aparece diariamente nas emergências: fraturas múltiplas, amputações, sequelas permanentes.

Musafir define a ortopedia atual como uma “especialidade de guerra” — e não por acaso. Se nas décadas passadas os hospitais enfrentavam as consequências da imprudência no volante, hoje convivem com uma avalanche de vítimas de motocicletas, que já representam a maioria dos leitos ocupados em setores de trauma.

Entre políticas públicas e omissão

A crítica central do ortopedista vai além da educação no trânsito. Para ele, a explosão dos acidentes de moto revela a incapacidade do Estado em oferecer transporte público eficiente, fiscalização adequada e condições de trabalho dignas para milhares de jovens que enxergam na moto a única alternativa de sobrevivência econômica.

Nesse cenário, campanhas de prevenção se tornam urgentes, mas insuficientes. É preciso uma política pública estruturada, que encare a motocicleta não apenas como veículo, mas como síntese da desigualdade social brasileira.

Reflexão final

Marcos Musafir carrega uma trajetória que une bisturi e cidadania. Se no passado ajudou a salvar vidas ao transformar o uso do cinto e da Lei Seca em conquistas coletivas, agora enfrenta uma batalha ainda mais complexa: reduzir o massacre cotidiano sobre duas rodas.

A questão é se a sociedade e os governos terão a coragem de seguir suas advertências ou se continuarão a tratar a tragédia dos motociclistas como mais um número nas estatísticas

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