No mundo digital, crianças e adolescentes se tornaram, inadvertidamente, uma das fontes mais lucrativas para grandes empresas de tecnologia. Plataformas de redes sociais, aplicativos de games e serviços de streaming transformaram o tempo de tela em moeda, monetizando atenção, dados pessoais e hábitos de consumo.
O poder dos algoritmos
As big techs não vendem apenas produtos: vendem atenção. Cada vídeo assistido, cada clique, cada “like” se traduz em dados valiosos. Para crianças, cujas habilidades de julgamento crítico ainda estão em desenvolvimento, esse modelo funciona com extrema eficácia:
• Conteúdo personalizado: algoritmos ajustam vídeos, jogos e anúncios ao perfil de cada usuário, mantendo crianças mais tempo engajadas.
• Gamificação e recompensas: sistemas de pontuação, badges e desafios estimulam a repetição, criando um ciclo quase viciante.
• Publicidade segmentada: dados coletados sobre preferências, comportamentos e interesses permitem que anunciantes direcionem produtos de maneira precisa e lucrativa.
Segundo estudos de mercado, empresas como Meta (Facebook e Instagram), YouTube e TikTok faturam bilhões por ano com publicidade direcionada a menores de 18 anos, mesmo que em muitos países a lei limite formalmente a coleta de dados de crianças.
O mercado infantil é lucrativo — e pouco regulado
Enquanto adultos conseguem identificar propagandas e promoções, crianças ainda são vulneráveis a estratégias de marketing invisíveis. Jogos gratuitos, vídeos “gratuitos” e aplicativos educacionais muitas vezes escondem microtransações, anúncios integrados e coleta de informações.
Estima-se que o setor de aplicativos e jogos voltados para crianças movimente mais de US$ 20 bilhões por ano globalmente. Plataformas de vídeo e redes sociais, por sua vez, monetizam não apenas a atenção, mas também dados comportamentais, criando perfis de consumo que podem ser vendidos a anunciantes.
Impactos sociais e éticos
O modelo de lucro infantil levanta questões importantes:
1. Privacidade: dados de menores são capturados muitas vezes sem consentimento adequado, mesmo com legislações como COPPA (nos EUA) ou GDPR-K (na União Europeia).
2. Saúde mental: o excesso de estímulos digitais pode contribuir para ansiedade, déficit de atenção e problemas de sono.
3. Consumo precoce: crianças são induzidas a comprar ou pressionar pais a comprar produtos digitais ou físicos, moldando hábitos de consumo desde cedo.
Especialistas alertam que a economia da atenção infantil representa uma nova fronteira do capitalismo digital: altamente lucrativa, mas pouco ética.
A resposta regulatória
Governos e instituições internacionais começam a agir:
• Legislação mais rigorosa: exigindo transparência sobre coleta de dados e limites de publicidade para menores.
• Educação digital: programas que ensinem crianças e pais a reconhecer publicidade e manipulação algorítmica.
• Responsabilidade corporativa: pressão para que empresas criem plataformas mais seguras e menos exploratórias.
No entanto, a inovação tecnológica avança mais rápido do que a regulação, e as big techs continuam a transformar atenção e inocência em receita bilionária.
Conclusão
O lucro com crianças não está apenas nos produtos que compram, mas na atenção que dedicam, nos dados que geram e nos hábitos que moldam. Big techs descobriram que a infância não é apenas uma fase da vida: é um ativo econômico.
A questão que permanece é ética: até que ponto o lucro justifica a exploração da vulnerabilidade infantil? E mais importante: quem protegerá as próximas gerações de se tornarem meros números em um algoritmo?










