General Alvin Holsey deixa o posto após questionar ataques a embarcações suspeitas; decisão ocorre em meio a tensão diplomática e dúvidas sobre transparência militar
Por Cláudia Antunes — Conexão Rio News | Brasília, 16 de outubro de 2025
O general Alvin Holsey, comandante responsável pelas operações militares dos Estados Unidos na América Latina e no Caribe, anunciou nesta quinta-feira (16) sua renúncia ao cargo de chefe do Comando Sul (Southcom). A decisão ocorre em meio a crescentes controvérsias sobre a atuação norte-americana na costa da Venezuela, onde forças dos EUA têm realizado ações contra embarcações supostamente envolvidas com o tráfico de drogas.
A informação foi confirmada pelo secretário adjunto de Defesa, Bill LaPlante, que descreveu a saída como “uma decisão pessoal e estratégica”. No entanto, fontes ouvidas pelo jornal The New York Times afirmaram que Holsey havia levantado preocupações internas sobre a legalidade e os objetivos reais de algumas operações navais recentes, que teriam resultado em danos a barcos civis.
Pressões e dúvidas internas
De acordo com as apurações publicadas pela imprensa norte-americana, o general teria solicitado revisão de protocolos adotados em missões próximas ao litoral venezuelano, alegando “falta de clareza” sobre as ordens recebidas.
Nos últimos meses, o Comando Sul intensificou sua presença militar na região, justificando as ações como parte da guerra internacional contra o narcotráfico. Entretanto, autoridades venezuelanas acusam os Estados Unidos de violar águas territoriais e de realizar ataques disfarçados sob o pretexto de combate ao crime organizado.
A tensão se agravou após o naufrágio de duas embarcações que, segundo Caracas, transportavam pescadores locais e não drogas, contrariando a versão americana.
Reação do Pentágono e bastidores da renúncia
O Pentágono confirmou que Holsey apresentou sua carta de demissão “por motivos pessoais”, mas evitou detalhar o contexto. Em nota breve, a pasta agradeceu ao general “por seus anos de serviço exemplar e compromisso com a segurança hemisférica”.
Nos bastidores, analistas interpretam a saída como um sinal de dissonância dentro das forças armadas americanas sobre o rumo da política externa na América Latina. Holsey, que assumiu o Comando Sul em 2023, era visto como um oficial técnico, com perfil diplomático e avesso a ações precipitadas.
“Ele sempre defendeu a cooperação regional e não operações unilaterais”, afirmou uma fonte ligada ao Departamento de Estado, sob condição de anonimato.
Impacto diplomático e cenário regional
A renúncia do general ocorre em um momento delicado para a relação entre Washington e Caracas, ainda marcada por sanções econômicas e trocas de acusações. O governo venezuelano classificou as recentes ações navais como “provocações inaceitáveis” e prometeu recorrer a instâncias internacionais.
Especialistas em segurança hemisférica alertam que a saída de Holsey pode fragilizar o diálogo militar com países da região, especialmente em um contexto de instabilidade política e crescimento de rotas alternativas do tráfico entre o Caribe e o norte da América do Sul.
Substituição e próximos passos
O secretário de Defesa dos EUA informou que um comandante interino será nomeado nos próximos dias, até a escolha de um substituto definitivo. O nome mais cotado é o da vice-almirante Laura Richardson, atual vice-chefe de operações navais, que já atuou em missões conjuntas na Colômbia e na Guiana.
Enquanto isso, o Congresso americano deve convocar uma audiência para discutir a legalidade das operações marítimas no Caribe e os limites do envolvimento militar norte-americano em águas internacionais.
Um gesto raro de insubordinação ética
A decisão de Alvin Holsey é vista por especialistas como um ato raro de dissidência dentro das forças armadas dos EUA. Poucos generais em atividade optam por se afastar diante de discordâncias estratégicas, especialmente em missões de alta sensibilidade política.
Para analistas ouvidos pela rede CNN, o episódio representa “um alerta interno sobre o excesso de autonomia operacional em áreas de conflito diplomático”.
Holsey, conhecido por sua postura discreta e pragmática, encerra uma carreira de mais de três décadas marcada por missões no Oriente Médio e pela defesa do multilateralismo militar. Sua saída, dizem fontes do Pentágono, “abre um vácuo difícil de preencher”.









