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Feminicídio: o Brasil que sangra, o Rio que chora e a Baixada que grita em silêncio

O Brasil ocupa um lugar alarmante no ranking mundial de feminicídios. Apesar de leis específicas, campanhas e canais de denúncia, o país segue como um dos que mais matam mulheres simplesmente por elas serem mulheres. Mas, quando olhamos para o mapa interno da violência, alguns territórios revelam feridas ainda mais profundas: o estado do Rio de Janeiro e, dentro dele, a Baixada Fluminense.

O retrato do país

Em média, uma mulher é vítima de feminicídio a cada 7 horas no Brasil. Os números se repetem, frios, mas a realidade é quente, dolorida e diária. Atrás de cada estatística está uma vida interrompida, uma família devastada e uma sociedade que insiste em não ouvir os sinais.

Rio de Janeiro: o espelho partido

O Rio registrou em 2022 o maior número de feminicídios em seis anos: 110 mulheres assassinadas, além de 293 tentativas frustradas. Em janeiro de 2024, a curva voltou a subir: o aumento foi de 33% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A capital, com suas delegacias especializadas e holofotes midiáticos, concentra parte da atenção. Mas é quando a lente se move em direção à Baixada Fluminense que o problema revela contornos mais sombrios.

Baixada Fluminense: território de silêncio e resistência

Cidades como Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Belford Roxo e São João de Meriti formam o coração pulsante de um problema crescente. Estima-se que um a cada quatro casos de feminicídio do estado aconteça na Baixada. Em 2024, os registros mostraram uma alta de quase 43% nos feminicídios na região, enquanto o resto do estado crescia em menor ritmo.

Ali, fatores se entrelaçam:
• Desigualdade social que aprisiona mulheres em relações abusivas.
• Racismo estrutural, já que quase 70% da população é preta ou parda.
• Milícias e grupos armados que intimidam, silenciam e dificultam denúncias.
• Rede de proteção frágil, com poucas delegacias especializadas e serviços sociais sobrecarregados.

Na Baixada, não é raro que o medo fale mais alto que a coragem. Muitas vezes, o grito é abafado antes de alcançar o socorro.

Quando denunciar é questão de sobrevivência

A cada ameaça, cada empurrão, cada humilhação, um alerta deveria soar. O feminicídio raramente é o primeiro ato de violência — ele é o último. Antes dele, há um histórico de sinais ignorados.

E é nesse ponto que os canais de denúncia se tornam cruciais:
• Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher, disponível 24 horas.
• 190: Emergência policial imediata.
• Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAMs): especializadas em acolhimento e registro de ocorrência.
• Aplicativos e sites de órgãos públicos: algumas iniciativas já permitem denúncias online, de forma sigilosa.

Mais que números: uma escolha coletiva

Os dados mostram que, enquanto o país tenta conter a violência, a Baixada Fluminense está em estado de emergência silenciosa. A pergunta que fica é: até quando vamos normalizar que mulheres sejam assassinadas por serem mulheres?

Romper o ciclo passa por denunciar, mas também por repensar políticas públicas, investir em educação, fortalecer redes de apoio e enfrentar as estruturas de poder que alimentam a impunidade.

Feminicídio não é crime de paixão. É crime de poder. É a ponta de um iceberg sustentado por machismo, desigualdade e silêncio. E só quando a sociedade inteira se recusar a silenciar será possível mudar essa realidade.

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