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ONU 80 anos e a Pré-COP30: um divisor de águas para o multilateralismo

Na semana em que líderes mundiais se reúnem em Nova York para a Assembleia Geral das Nações Unidas, a instituição completa 80 anos de sua fundação sob a sombra de desafios que colocam em xeque a própria razão de sua existência. O marco histórico coincide com os preparativos para a COP30, conferência do clima que será realizada em Belém, no Pará, em 2025, e que coloca o Brasil no centro da agenda global.

O balanço de oito décadas

Criada em 1945, no pós-guerra, a ONU foi concebida como guardiã da paz e da cooperação internacional. Ao longo de sua trajetória, acumulou vitórias significativas — desde a assinatura de tratados de desarmamento até missões de ajuda humanitária em áreas devastadas por conflitos e desastres naturais. Mas o aniversário de 80 anos chega acompanhado de fissuras: o Conselho de Segurança continua dominado por um formato da Guerra Fria; a polarização geopolítica enfraquece consensos; e crises humanitárias, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, expõem os limites da diplomacia multilateral.

Para especialistas, a ONU vive um paradoxo: permanece insubstituível, mas é insuficiente diante da velocidade e da escala das crises globais.

A pré-COP30: o Brasil no centro da cena

Se o passado da ONU inspira reflexão, o futuro próximo recai sobre a COP30. Marcada para acontecer em Belém, a conferência tem um valor simbólico: pela primeira vez, a Amazônia — região vital para o equilíbrio climático — será palco das negociações. O governo brasileiro aposta que a escolha reforça sua posição como liderança ambiental, mas a missão vai muito além da imagem.

Os preparativos enfrentam entraves logísticos e sociais: falta de infraestrutura adequada, altos custos de hospedagem e dúvidas sobre a capacidade da cidade de absorver milhares de delegados, jornalistas e ativistas. Ao mesmo tempo, cresce a expectativa de que o Brasil apresente compromissos claros contra o desmatamento e uma estratégia coerente de transição energética, diante de críticas sobre a expansão de combustíveis fósseis.

Convergências entre ONU e COP30

O elo entre os 80 anos da ONU e a COP30 é revelador: ambos simbolizam o esforço humano em construir cooperação internacional diante de ameaças existenciais. Mas enquanto a ONU nasceu para evitar guerras, hoje o desafio é lidar com crises globais que não respeitam fronteiras — mudanças climáticas, pandemias, desigualdade social.

A Conferência em Belém, nesse contexto, será um teste decisivo. Mostrará se o multilateralismo ainda é capaz de responder às urgências do presente ou se continuará preso ao formalismo de discursos e resoluções sem efeito prático.

O risco da retórica

O grande temor é que tanto a Assembleia da ONU quanto a COP30 se tornem palcos de discursos inspiradores sem resultados concretos. O risco é real: compromissos climáticos vagos, falta de financiamento para países pobres e a ausência de mecanismos de cobrança eficazes podem transformar a reunião em mais uma oportunidade perdida.

Oportunidade de virada

Por outro lado, a coincidência histórica abre espaço para renovação. O Brasil, como anfitrião da COP30, tem chance de propor um modelo de conferência mais inclusivo, que valorize saberes indígenas, jovens lideranças e comunidades diretamente impactadas pela crise climática. E a ONU, ao completar 80 anos, pode reencontrar seu papel como mediadora global, desde que aceite reformas profundas e uma abertura real à pluralidade de vozes.

Reflexão final

Oitenta anos depois, a pergunta permanece: para que servem as instituições internacionais em tempos de crise? A resposta pode começar a ser construída agora. Se a ONU e a COP30 conseguirem se reinventar, provarão que a cooperação global não é um ideal do passado, mas uma necessidade urgente do presente. Caso contrário, o mundo corre o risco de assistir a uma celebração vazia enquanto a realidade do aquecimento global avança com a força de um futuro inevitável.

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