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Rio e Niterói no páreo do Pan-Americano 2031: promessas, desafios e realismo

Entre promessas bilionárias e sonhos antigos, Rio e Niterói disputam o Pan 2031 com Assunção — e tentam provar que o legado olímpico ainda pode renascer.

Por Claudia Antunes

Rio de Janeiro e Niterói formalizaram candidatura conjunta para sediar os Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos de 2031. A disputa, que será decidida nesta sexta-feira, coloca as duas cidades fluminenses frente a frente com Assunção, capital do Paraguai — que busca sediar o evento pela primeira vez.

Mais do que uma competição esportiva, o Pan é visto pelos gestores locais como oportunidade de destravar obras de mobilidade e saneamento prometidas há décadas. No centro desse plano estão três compromissos: a Linha 3 do metrô, a implantação de novos VLTs e a despoluição da Baía de Guanabara.

A Linha 3 do metrô: o elo que nunca saiu do papel

Prometida desde os anos 1960, a Linha 3 do metrô é uma das mais antigas demandas da Região Metropolitana do Rio. O projeto prevê a ligação direta entre Niterói, São Gonçalo e o Rio de Janeiro, incluindo um túnel sob a Baía de Guanabara.

Se sair do papel, o novo ramal reduziria significativamente o tráfego sobre a Ponte Rio-Niterói e o tempo de deslocamento diário de milhares de trabalhadores. O custo estimado é bilionário, mas autoridades defendem que o evento esportivo poderia servir de catalisador político e financeiro para viabilizar a obra.

O discurso é claro: o Pan seria a desculpa perfeita para tirar a Linha 3 da gaveta, conectando duas cidades-sede e dando um legado duradouro de mobilidade urbana.

VLTs: uma nova mobilidade sobre trilhos

Outra promessa é a expansão do sistema de Veículos Leves sobre Trilhos. A proposta inclui transformar parte dos corredores de BRT da capital em linhas de VLT, oferecendo um transporte mais sustentável e integrado.

Em Niterói, está prevista a criação de um trajeto ligando o Barreto ao Centro, conectando bairros populosos ao eixo principal de transporte. O objetivo é diminuir a dependência dos ônibus e reforçar o uso de energia limpa, dentro de uma política urbana mais moderna e menos poluente.

Baía de Guanabara: o desafio ambiental que persiste

Nenhuma promessa, porém, desperta tanto simbolismo quanto a despoluição da Baía de Guanabara. O compromisso, que já foi assumido nas campanhas do Pan de 2007 e dos Jogos Olímpicos de 2016, nunca se concretizou plenamente.

Agora, o projeto volta à pauta como pilar ambiental da candidatura. O plano prevê ampliar o tratamento de esgoto e acelerar obras de saneamento básico em Niterói, São Gonçalo e demais municípios do entorno. Segundo as metas, 90% das residências da região deveriam estar ligadas à rede de esgoto até 2033 — prazo que as prefeituras prometem antecipar para coincidir com o calendário do Pan.

Investimentos e legado

O orçamento estimado para o evento gira em torno de R$ 3,8 bilhões, somando recursos públicos e privados. O diferencial da candidatura fluminense é aproveitar estruturas já existentes — como o Parque Olímpico da Barra e o Parque Aquático Maria Lenk — reduzindo custos e evitando novos “elefantes brancos”.

O foco declarado é transformar o Pan em um projeto de legado social, ambiental e econômico, e não apenas em um espetáculo esportivo de duas semanas.

Entre o otimismo e o ceticismo

Apesar do entusiasmo, há desconfiança. As grandes obras prometidas demandam tempo, licenciamento ambiental, planejamento técnico e segurança financeira. São empreendimentos que raramente seguem cronogramas ideais — e o histórico recente de promessas não cumpridas no Rio alimenta o ceticismo.

Além disso, o prazo é curto: seis anos até o evento. Para a Linha 3, por exemplo, cada etapa — de licitação a execução — levaria, em condições normais, quase o dobro desse tempo. Mesmo os VLTs, considerados mais viáveis, exigem planejamento orçamentário e integração metropolitana.

O adversário: Assunção

A concorrência de Assunção não é desprezível. A capital paraguaia apresenta uma candidatura mais enxuta, com menor custo e menor necessidade de obras complexas. Por outro lado, o Rio e Niterói têm experiência comprovada em sediar grandes eventos, infraestrutura esportiva já pronta e forte apelo turístico.

A decisão, portanto, tende a equilibrar tradição e viabilidade. Enquanto Assunção aposta na simplicidade, o Brasil aposta no legado e na imagem internacional.

Promessa ou realidade?

Se confirmada a escolha de Rio e Niterói, os Jogos Pan-Americanos de 2031 podem ser o gatilho para destravar projetos que há décadas habitam o imaginário fluminense. Mas a história recente ensina: sem planejamento, transparência e execução eficiente, o risco de repetir velhos erros é alto.

O Pan pode ser o símbolo de uma nova fase — de integração metropolitana, transporte moderno e respeito ambiental — ou mais um capítulo de promessas que se dissolvem nas águas da Baía de Guanabara.

O futuro da candidatura, e talvez da própria credibilidade da região em sediar grandes eventos, será decidido nos próximos dias.

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