O Congresso do Peru aprovou nesta madrugada a vacância da presidenta Dina Boluarte, declarando sua incapacidade moral permanente. Com 122 votos favoráveis em uma casa legislativa de 130 cadeiras, os congressistas superaram a exigência de dois terços para destituir a chefe do Executivo. Boluarte, que havia sido convocada para se defender, não compareceu ao Parlamento. Em seguida, o presidente do Congresso, José Jerí, assumiu o mandato de forma interina, conforme o regime de sucessão estabelecido pela Constituição.
O que motivou a votação:
As motivações apresentadas pelas bancadas que apoiaram a vacância são múltiplas:
• Acusações de corrupção: parlamentares alegaram falta de transparência em viagens oficiais, uso indevido de recursos públicos e omissão em denúncias questionáveis.
• Crise de segurança: o agravamento dos índices de violência, com aumento de homicídios, extorsão e crimes organizados, foi apontado como evidência de falha do governo em manter ordem.
• Falta de liderança institucional: críticos acusavam Boluarte de não possuir articulação política suficiente para dialogar com o Legislativo e enfrentar os desafios estruturais do país.
• Abandono de funções: também foi mencionada a incapacidade de responder de modo eficaz às demandas sociais e humanitárias emergentes.
Durante a sessão, vários congressistas justificaram que a ausência da presidenta no momento de sua defesa seria um ato simbólico de desrespeito à instituição.
Consequências imediatas e institucionalidade
Com a aprovação da vacância, o país entra numa fase de transição política. José Jerí, até então presidente do Congresso, foi empossado como presidente interino com o dever de governar até a realização das próximas eleições, previstas para abril de 2026.
O episódio reforça o padrão de sucessões abruptas no Peru já são vários presidentes nos últimos anos e acentua o quadro de instabilidade política. Institucionalmente, o processo também suscita debates sobre os poderes do Congresso de destituir chefes de Estado com base em “incapacidade moral”, conceito que pode se tornar ainda mais controverso, pois envolve interpretações subjetivas.
Reações políticas e sociais
A destituição gerou manifestações imediatas pelo país. Apoiadores de Boluarte denunciam que a decisão configura um golpe institucional, enquanto críticos veem como passo inevitável após meses de crises consecutivas. Organizações da sociedade civil, instituições democráticas e setores da imprensa acompanham com atenção a transição.
Internacionalmente, governos e organismos multilaterais expressaram preocupação com a ordem constitucional e pedem que o processo mantenha transparência e respeito às normas políticas.
Desafios para o governo interino e próximos passos
• Estabilidade política: o novo presidente interino precisará conciliar forças políticas fragmentadas e resistir à pressão de grupos que buscam influência no próximo governo definitivo.
• Garantia eleitoral: assegurar que o calendário de eleições seja cumprido e que o processo ocorra sem manipulações será essencial para legitimar a nova administração.
• Governança crível: José Jerí precisará demonstrar capacidade de administrar o país em meio ao desgaste econômico, social e institucional acumulado sob o olhar crítico de opositores e da opinião pública.
• Reconciliação social: restaurar a confiança nas instituições e acalmar protestos ou tensões exigirá gestos simbólicos e políticas concretas para responder às demandas por segurança, serviço público e justiça.
Reflexão final

A saída de Boluarte do poder marca mais um capítulo na crise política peruana. Embora o mecanismo constitucional de vacância tenha sido observado, o contexto reforça vulnerabilidades do sistema político local: fragilidade de coalizões, desencontros entre Poderes e uso de conceitos normativos amplos como “incapacidade moral”.
Agora, o Peru observa, e se prepara, para uma nova fase de transições, em que o controle institucional, o equilíbrio entre poderes e a legitimidade do governo interino serão colocados à prova. O desafio é grande: não basta mudar quem ocupa o Palácio, é preciso reconstruir a estabilidade política e democrática para que o país não siga preso num ciclo de crises constantes.









