A Polícia Federal amanheceu sexta-feira (12) com sirenes ligadas e um alvo definido: Antônio Carlos Camilo Antunes, mais conhecido no submundo dos esquemas como o “Careca do INSS”. Ao lado dele, foi preso também o empresário Maurício Camisotti, apontado como parceiro de negócios nas engrenagens das fraudes.
O apelido parece tirado de um roteiro de série policial, mas a trama é real — e envolve cifras milionárias. De acordo com as investigações, entre 2023 e 2024, o “Careca” movimentou pelo menos R$ 9,3 milhões, transferidos para pessoas ligadas a servidores do Instituto Nacional do Seguro Social.
O personagem e seu apelido
Antônio Carlos ganhou o codinome de forma quase folclórica. Nos corredores de cartórios e escritórios improvisados, já era conhecido como o “Careca do INSS”: uma mistura de ironia e intimidação. Para a PF, o apelido ajudava a dar verniz de poder e confiança a quem o procurava em busca de “atalhos burocráticos”.
O esquema
A investigação aponta que os repasses não eram simples doações, mas parte de uma rede de propinas e favorecimentos que facilitava a concessão de benefícios irregulares. A engrenagem era sofisticada: empresários “patrocinavam” o esquema, servidores estratégicos faziam vista grossa e intermediários como o Careca articulavam o fluxo do dinheiro.
Documentos apreendidos mostram transferências em cadeia, destinadas a parentes, sócios ocultos e até laranjas de servidores públicos. A linguagem era cifrada, mas os números eram claros: o rastro dos milhões corria paralelo às fragilidades do sistema previdenciário.
A operação
A ação de sexta-feira ocorreu em diferentes cidades, com mandados de prisão e busca e apreensão. Na casa de Camisotti, foram recolhidos computadores e planilhas que detalham as movimentações. Com o Careca, a PF encontrou celulares com aplicativos de mensagens apagados às pressas.
Um delegado ouvido pela reportagem, sob anonimato, resumiu:
— Não é um esquema novo, mas é um dos mais organizados que já vimos.
O silêncio da defesa
Até o fechamento desta edição, a defesa de Antônio Carlos não havia sido localizada. O mesmo ocorreu com os representantes de Maurício Camisotti.
Enquanto isso, a Procuradoria avalia ampliar as investigações, mirando não apenas os operadores, mas também servidores que podem ter se beneficiado do esquema.
O impacto
O caso reacende o debate sobre a fragilidade da Previdência, constantemente alvo de fraudes bilionárias que drenam recursos de aposentados e pensionistas. Cada cifra desviada não é apenas estatística: representa filas mais longas, benefícios atrasados e descrença em um sistema já visto com desconfiança pela população.
Um apelido que virou manchete
Se para os bastidores o nome “Careca do INSS” era quase folclórico, agora ele estampa manchetes policiais. A ironia é amarga: o homem que se apresentava como solucionador de problemas burocráticos se tornou ele próprio o maior problema do sistema.
A PF promete aprofundar a apuração. E a sociedade, mais uma vez, assiste à repetição de uma trama conhecida: dinheiro fácil, atalhos perigosos e a difícil tarefa de garantir que a Previdência não seja apenas sinônimo de escândalos.









